Roma - Shakthar DonetskOitavos de Final da Champions League
Antevisão
Dos jogos agendados para esta eliminatória dos oitavos de final, este é um dos que me suscita mais interesse. Não apenas por o jogo da 1ª mão, mas sim pela eliminatória em si.
Antes de mais é preciso perceber em que contexto surge este jogo e mais importante que tudo: que treinadores se defrontam nesta eliminatória. Irmos pelo nome das equipas é um erro, pois não será certamente o nome das formações que irá ganhar o jogo. É preciso perceber que tipo de trabalho estão a fomentar os dois treinadores e como irão utilizar a matéria-prima que possuem ao seu dispôr.
Mircea Lucescu (Shakthar) e Claudio Ranieri (Roma) conhecem-se bastante bem, seja pelos confrontos que já opuseram os 2 treinadores, seja pelo respeito que nutrem mutuamente pela forma que organizam as equipas. Lucescu já treinou vários anos em Itália, sendo que conhece por dentro a Série A e a forma como abordam os jogos. Passou pelo Pisa, Reggiana, Brescia e também pelo Inter tendo um registo de 2 vitórias 4 derrotas e 2 empates frente a Ranieri. Mas também já se defrontaram nas competições europeias, na altura o Italiano treinava o Chelsea e foi derrotado no seu próprio terreno pelo Besiktas de Lucescu por 2-0.
No entanto, vejo este jogo de forma muito diferente o contexto actual.
Começando pelo Shakthar Donetsk. Toda a gente sabe da influência que Rinat Ahkmetov possui na Ucrânia e em especial no seu clube. Para além de ser multibilionário, Rinat é o principal impulsionador do Shakthar como potência do campeonato Ucrâniano. Ao injectar dinheiro no clube apartir de 1996, Donetsk começou a ganhar os primeiros títulos e a ficar preparada para projectos mais ambiciosos, sendo que Lucescu foi o homem indicado para liderar esta missão que dura já à 6 anos.
O Shakthar é um clube que sempre foi ligado à grande máfia da Ucrânia, alvo de muitas especulações e pressões burocráticas, sendo mesmo que o seu anterior presidente foi assassinado no ano de 1995, Akhat Bragin que segundo consta era um dos maiores líderes do crime organizado. O seu sucessor como presidente do Clube, Rinat Ahkmetov tem vários projectos para ajudar as pessoas mais necessitadas no seu país, no entanto há vários relatos que o ligam à Máfia de Donetsk. O que é de reter é que parece que este clube já á muito tempo que tem um tipo de liderança que trás encargos e não desprovida de pressão nos seus atletas e staff técnico.
Quando Lucescu iniciou funções no clube, Rinat pediu expressamente que montasse uma equipa capaz de lutar por um título europeu, algo que já foi conseguido frente ao Werder Bremen na final da Liga Europa de à 2 anos. Para Mircea não é nada de novo, apenas um sinal que o Futebol de leste já se aproximou bastante do Ocidental, visto que nos últimos anos equipas como Zenit, CSKA, Shakthar e Galatasaray já venceram o título europeu. Bom, uma vez que existe um trabalho contínuo de 6 temporadas, Donetsk surge-nos como um adversário bem complicado de ultrapassar, ainda para mais na sua especialidade: eliminatórias a duas mãos. Se ao início a preocupação era a de constituir um grupo de jogadores muito talentosos, hoje esses talentos são confirmações com resultados práticos:
- Lideram o campeonato com 19 Jogos, 17 vitórias, 1 empate e 1 derrota;
- 1º Lugar na fase de grupos da Champions League ficando à frente do Arsenal, com 5 vitórias e 1 derrota;
- Manutenção da base estrutural de à 3 anos para cá permitindo a solidificação do modelo de jogo e do conhecimento mútuo dos jogadores.
O que muita gente não se apercebe é que o Shakthar é das formações mais jovens (talvez a mais jovem) que surge nos oitavos de final, com os seus principais jogadores abaixo dos 30 anos: Willian (22), Douglas Costa (20), Alex Teixeira (21), Jádson (27), Fernandinho (25), Luiz Adriano (23), Eduardo da Silva (27), Stepanenko (21), Henrikh Mkhitaryan (22), Chyrynskiy (24), Srna (28), Rat (29), Ratiskiy (21), Pyatov (26) e Marcelo Moreno (23).
Lucescu diz que gosta de trabalhar com jogadores jovens, porque mais do que ninguém
"eles gostam de aprender", assim a aposta neles é algo regular como no jogo frente ao Braga onde 5 atletas tinham 21 anos ou menos. Em suma, o Shakthar é uma das equipas mais Brasileiras da Europa, mas também uma das que apresenta melhor futebol.
Os pontos fortes desta formação:
- Solidez da 1ª linha defensiva composta por Chygrynskiy e Ratiskiy no centro, Srna e Rat nas laterais;
- Poder de desdobramento táctico de Srna e Rat que providenciam maior profundidade nos corredores laterais. A ajuda que dão nos processos ofensivos é uma grande mais-valia para o sucesso das movimentações das suas unidades mais avançadas, assim como sabem cruzar bem. A defender são fortes no 1 para 1, nas dobras defensivas e a fechar espaços.
- Jádson: É por ele que passa a monitorização do jogo (não exlusivamente). Gere os ritmos de jogo e possui um poder de aceleração de passa fantástico. Com a sua visão consegue colocar a bola com facilidade em qualquer lado. Passes de ruptura entre linhas é uma especialidade sua assim como de Douglas Costa, outro talento desta formação Ucraniana. Jádson é um jogador que possui algumas características que permitam a distinção entre um bom jogador e uma peça-chave: poder de decisão. Normalmente, fruto da experiência que possui nas 4 linhas, decide bem, tendo por vezes que ser ele a decidir no remate.
- Willian: Lucescu uma vez disse que "o futebol aqui é muito mais físico. Como muitos dos meus jogadores são bastante tecnicistas, nós fazemos o resto (preparação física para aguentar todo o tipo de choques e ritmos de jogo)". Vejo em Willian a síntese perfeita desta análise, sem dúvida um jogador que consegue acrescentar muito em termos ofensivos. Um autêntico esgravilha no 1 para 1, um rompe pernas a longo prazo, fruto da sua grande velocidade e forte no passe. Willian é daqueles jogadores que se não houver cautelas redobradas, muito em princípio sofrem as consequências imediatas. Se em Jádson e Stepanenko o jogo começa a ter a sua 1ª fase de aceleração, então em Willian e Luiz Claudio temos a 2ª e 3ª velocidade.
- Infelizmente para os Ucranianos, Fernandinho está lesionado para toda a época, partindo a perna em 2 locais, caso contrário para mim o favoritismo estava no lado de Donetsk, pois Fernandinho (a par de Jádson) oferece toda uma leitura de jogo que não é fácil a nenhuma equipa de fazer frente. Douglas Costa tem sido o seu substituto e tem feito grandes desempenhos. A questão é: com 20 anos terá o estofo necessário para tão adiantada fase da Champions? Esperar para ver, com Fernandinho haveriam mais certezas...
- Movimentos Tipo: Bola em Jádson ou Stepanenko, Douglas Costa faz uma quebra e desce para vir buscar jogo. Tabela directa entre Jadson e Costa confundindo os seus defensores directos. Enquanto isso, diagonais de ruptura opostas entre Luiz Cláudio e Willian que com a sua velocidade de ponta e capacidade técnica só têm de esperar que o passe em profundidade tenha as medidas correctas.
Existe outra situação em que é apoiado com as subidas de Srna e Rat. É quando Luiz Claudio desce ficando no apoio próximo a Jadson e Douglas Costa sendo que a bola entrará num dos corredores laterais. Geralmente atacam mais pelo lado direito (Srna), sendo que Jádson fica na entrada da área caso venha cruzamento rasteiro, Willina faz uma diagonal para o 1º poste e Claudio arrasta o seu defensor para o 2º tendo aqui 3 opções para Srna colocar a bola.
Em termos de profundidade de plantel existem grandes soluções: Eduardo da Silva que não actuando como titular é uma grande mais valia para a equipa quando entra, Hubschmann que faz qualquer posição na defesa, Alex Teixeira que se sente mais à vontade na zona de Douglas Costa e claro... o jovem Arménio, Mkhitaryan em quem se deposita muitas esperanças. Um jovem talento recrutado ao Metalurh (36 Jogos, 12 Golos) sendo que já era um líder do clube, mas sobretudo pelas épocas que passou no Pyunik (69Jogos, 30 Golos), onde o médio conquistou 4 títulos (2006 a 2009). Com poucos jogos ao serviço do Shakthar já mostrou serviço (6 Jogos, 2 Golos) motivo pelo qual, Lucescu confia bastante nas capacidades do jogador.
Mas há alguns contras que poderão ser decisivos para o fecho da eliminatória:
- É a 1ª vez que estão nos oitavos da Champions;
- A paragem do campeonato e que poderá afectar o seu rendimento, visto que apesar do Roma vir de maus resultados, pelo menos tem competido contra formações fortes (Nápoles, Inter...). Rat já desvalorizou esse facto e diz que não esquece os 4-0 de à 4 anos, um jogo que correu de feição aos Romanos, mas altamente enganador. O Romeno diz mesmo que os particulares em Espanha ajudaram a recuperar a forma donde se destaca a vitória por 4-1 frente ao Rosenborg.
Quanto ao Roma, não tem realizado uma época brilhante estando na 8ª posição da Série A actualmente, algo que desagrada e de que maneira a Presidente Rosella Sensi.
Para este jogo da Champions tive de recordar os últimos 3 jogos da Roma (empate em casa frente ao Brescia, derrota 5-3 em casa do Inter e derrota em casa 2-0 frente ao Nápoles).
Para quem vê os jogos do Roma e tenta analisar os processos de jogo que estão a ser explorados pode ficar algo confundido, pelo menos é como eu fico... Se no último jogo, fui de caras no Nápoles dnb, neste fico um pouco mais apreensivo.
Jogando num falso 4-4-2 losango, a Roma tenta tirar partido de um jogo ofensivo apoiado, mas muitas vezes não é o que acontece, e porque será? Na minha opinião talvez seja por excesso de informações que provoquem no atleta o sentimento de não saber bem o que se pretende, ou então a falta dela e deixar entregue ao acaso, a sorte do jogo. Sinceramente, sempre que vejo um jogo da Roma o que se sucede é o seguinte:
- Quarteto defensivo em linha mas de forma apertada e dão espaço nos corredores laterais. Porquê? Porque estão mais habituados a defrontar 4-4-2 ou 4-1-2-2-1, ou qualquer sistema que se rege pelo corredor central. Quando apanham uma equipa com extremos abertos possuem uma dificuldade acentuada, talvez por aí se explique a derrota de 3-1 frente ao Basel, e derrota de 2-0 contra o Nápoles ambas em casa.
- A Roma quase sempre (e não digo sempre) faz as transições defesa ataque da seguinte forma: 4 defesas, 2 médios defensivos. Mal a formação adversária na transição ofensiva coloque a bola no seu extremo a Roma parece perdida, isto porque começam todos a correr no mesmo sentido. Tudo para trás mas sem variações. Bom, isto dá para as equipas com executantes acima da média fazerem o que quiserem.
- Mais... Sempre que um extremo faz a diagonal com bola para o interior, o Riise ou o Cassetti acompanham dando origem a um aglomerado de jogadores na zona central. Que faz o extremo? Passa para o seu lateral que está a acompanhar a jogada e fica com espaço para colocar a bola onde quiser. É assim que a Roma é muitas vezes surpreendida, a outra é no jogo entre linhas, mais uma vez porque não sobem todos ao mesmo tempo (geralmente um dos laterais atrasa, colocando em jogo, ou quando Mexés está em campo).
- No ataque é algo que não é facilmente explicável. Por um lado parece tudo muito previsível, De Rossi, Perrota e Simplício a transportar jogo e colocar ou no Borriello ou Totti para ver o que surge dali. Por outro lado, quando Vucinic está dentro de campo a história é outra, mas novamente parece-me mais talento do jogador e aleatoriade do que processos trabalhados em treino.
- Possuem um bom plantel mas tenho muitas dúvidas na sua linha defensiva: Juan parece ser aquele que melhor lê o jogo, Méxés é inconstante e nunca se sabe quando explode, Burdisso marca bem individualmente mas é facilmente surpreendido no jogo entre linhas. Riise neste jogo se se aventura muito no ataque pode ser fatal e Cassetti ter de travar constantemente Willian... Não parece de todo uma tarefa fácil.
Volto a dizer que para este jogo é preciso cautelas, porque não pode haver certezas quanto à forma actual dos Ucranianos, assim o apostador deve verificar in live se tudo o que foi dito se está a passar ou em vias de...Uma coisa para mim e certa, Roma tem de arriscar mais neste jogo pelas derrotas que tem sofrido, pelo mau ambiente com os seus adeptos (que começa a surgir) e porque ir a Donetsk tentar ganhar a eliminatória parece suicídio. Aliás, ganhar lá não é para todos e foi o que Eduardo da Silva avisou... Aqui ganhamos quase sempre, por isso o nosso grande objectivo é ir lá e marcar pelo menos 1 ou 2 golos. O meu parecer é que este Shakthar é um osso muito duro de roer e extremamente difícil de os eliminar e o Roma como se tem mostrado, não augura nada de bom. A ver vamos

Pré-live diria:
:arrow: Shakthar Donetsk para passar a eliminatória @ 2.00 na Bet365
:arrow: Empate ou Shakthar a 1.72 ( para esta eliminatória esta parece-me uma hipótese de relevo, no entanto há que verificar a atitude inicial, isso será chave para decidirmos se apostar ou não, na equipa Romana é que não consigo ir, demasiada aleatoriadade de processos para poder ter uma aposta fundamentada).
Com os melhores cumprimentos,
Tiago Lima